Thursday, June 10, 2010

Pinga-fogo: Perguntas e Respostas sobre a política em geral

Lula no Irã?!
Primeiramente é importante destacar que, independentemente do êxito das negociações de Lula com Ahmadinejad, eu acredito que a visita tenha assumido um caráter negativo no cenário diplomático global, sobretudo na avaliação dos Estados Unidos e da União Européia. Antes que acontecesse de fato, a visita do presidente do Brasil havia sido rechaçada pela comunidade internacional, que na verdade já estava e está decidida a tratar o Irã com sanções econômicas e não mais com diálogos. Por isso, não penso em evoluções no campo da diplomacia mundial por enquanto. A maior parte do mundo não a quer, inclusive o Irã, que continua violando suas obrigações enriquecendo urânio a 20%. O endurecimento do seu Conselho de Segurança da ONU, sob a batuta e cartilha norte-americana, mesmo após o anúncio do presidente iraniano sobre a viabilidade de seu país enriquecer urânio na Turquia, também é prova incontestável disso.


E a imagem do Brasil no mundo?
Essa projeção do Brasil no cenário internacional capitaneada pelo presidente Lula é reconhecida por governos internacionais e destacada pelos veículos de comunicação mais influentes do mundo. Mas essa unanimidade e esse personalismo são perigosos. Pode ser boa para Lula e péssima para o Brasil. Bem... se o presidente Lula tem se valido das negociações com Irã como plataforma e vitrine para postular ao cargo de secretário-geral da ONU, é um péssimo negócio para o Brasil e para nossa própria democracia. Os interesses pessoais de nenhum líder devem se sobrepor aos da instituição que lidera. Principalmente quando o líder é um governante democraticamente eleito. O Estado não pode ser “instrumentalizado” para saciar as aspirações de quem quer que seja. Temo por isso. Nesse processo, o Brasil precisa estar em primeiro lugar, e não o Lula.

Nova corrida armamentista?
Eu partilho da opinião que o acordo anunciado pelos governos de Turquia, Brasil e Irã não impede o país persa de desenvolver um programa clandestino de enriquecimento de urânio que o capacite a produzir uma bomba atômica. As sanções econômicas, tampouco são garantia de que os iranianos abandonarão a tentativa de ingressar no clube nuclear, formado por Índia, Paquistão, Israel, China, Coreia do Norte, EUA, Rússia, França e Reino Unido. Em contrapartida, ninguém quer dar o primeiro passo na tentativa de se livrar das armas de destruição em massa. O discurso americano, por sua vez, não passa de um palavreado retórico e demagogo quando interpretado à luz de seu efetivo militar. Condena novas corridas armamentistas e defende visceralmente o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, contudo, possui um arsenal nuclear que, embora tenha sido reduzido em 84% desde 1967, é ainda hegemônico e assustador. Ranço do pressuposto maquiavélico de que se você quer paz, prepare-se para a guerra. Aliás, conforme defende o sociólogo Immanuel Wallerstein no livro “O Declínio do Poder Americano” o armamento é a única força que os Estados Unidos ainda ostentam com folga, pois economicamente e ideologicamente o império do tio sam tem dado seus últimos suspiros há algum tempo.

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