Thursday, June 10, 2010

Ética na política regional e nacional

O PPS santista terá dois candidatos a deputado estadual: Marcelo Del Bosco e Braz Antunes. Ambos tem a política no DNA. Marcelo é filho do ex-deputado federal pelo PMDB, Del Bosco Amaral. Já Braz é filho do ex-vereador e sindicalista Nelson Mattos. Del Bosco afirma que Braz garantiu-lhe que seria candidato a deputado federal e que mudou de idéia sem comunicá-lo. Enquanto isso, Braz sai arrebatando votos pelo Estado.


Fala-se muito em crise: crise financeira, crise do Senado, crise de determinado partido, crise do sistema de saúde, crise política - até entre próprios correligionários, etc. Não que seja mentira ou que haja ênfase demasiada nos fatos. A problemática é que se atribui a crise às instituições e escamoteia-se o real problema: a decadência dos valores morais. Consequentemente, despersonaliza-se a crise, que se torna abstrata. Por não ter cara nem legenda, sequer nome ou CPF, é desumanizada e responsabilizada injustamente. Pessoas sim, e não entidades ou modelos sócio-econômicos, se afundaram numa crise ética sem precedentes.

Na semana passada, fui surpreendido negativamente por uma declaração que lançou luz sobre aspectos importantes de nosso momento histórico: “Vossa Excelência sabe muito bem que ética coletiva não existe, é individual. Cada um tem a sua”. O detalhe é que nenhum órgão de comunicação noticiou o diálogo parlamentar. Por que será? A reposta é simples. Porque é assim que a ética é concebida hoje. Dos lares aos ambientes de trabalhos, das salas de aula aos templos religiosos, da individualidade de cada cidadão à representatividade no Congresso Nacional. A única verdade, contraditoriamente, é que não existe mais Verdade. Ela depende da aferição e do ponto de vista de cada um.

A frase do nobre Senador sintetiza o respaldo teórico de práticas que justificam a inversão de valores nas diferentes esferas da sociedade: a autonomia humana, a divinização do homem. Com a soberania da individualidade, gerou-se, portanto, um esfacelamento de princípios, daquilo que até então era coletivamente ou unanimemente ético. Agora, porém, a sociedade chora e se indigna com algo que ajudou a construir e a defender. A ética precisa de tratamento, está doente, não sabe mais quem é e o que defende, perdeu a sua identidade de tão fragmentada que está.

Do humanismo renascentista do século 16 ao existencialismo pós Segunda Guerra, muitas correntes filosóficas surgiram para idealizar ou sacralizar esse movimento individualista. Dependendo do ponto de vista, lograram êxito na construção desse novo homem. Argumentou-se que esse ser livre e capaz de se autodeterminar por suas próprias leis somente nasceria quando “matasse” ou superasse o pensamento obsoleto judaico-cristão da existência de uma legislação metafísica, à qual todos estariam jurisdicionados. A ética, então, se libertou, mas paralelamente e prematuramente sufocou-se asfixiada pela sua libertinagem, pela ausência de referenciais. No afã de assassinarem o transcendente, acabaram ferindo e enlouquecendo a ética.

À esquizofrenia da ética uniu-se a frouxidão moral do homem moderno. Como nas palavras de Sartre: “O homem, [o único responsável pela arquitetura do seu destino], está condenado a ser livre” . Esta é a gênese e o motor de todas as ‘crises’.

A solução para isso é dar à ética um tratamento de choque no divã do bom senso coletivo. É adotar uma liberdade que, embora balizadas por leis próprias, não esbarre na liberdade de quem quer que seja ou na democracia de um país. Somente através dessa terapia social a sociedade poderá olhar para o horizonte com a expectativa de mudanças significativas.

No comments: